quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Lógica da Higiene e Limpeza

Manual de Segurança para Higiene e Limpeza
Prof. Roberto Maia Farias


A limpeza até bem pouco tempo era um processo de elevado esforço humano (ação mecânica), ou seja, muita gente esfregando demasiadamente o ambiente ou utensílios, independente das misturas de produtos (ação química), das condições de uso (ação tempo e temperatura), dos tipos de sujidades e da segurança (pessoal, operacional e ambiental).

O ambiente a ser limpo (piso, parede, roupas etc.) e o tipo de composição material (cerâmica, mármore, azulejos, madeiras tecidos etc.) tinha baixa importância no processo de limpeza. O fundamental era somente “arrancar” (eliminar) a sujeira. O sistema era conduzido (gerenciado/operado) por pessoas, na maioria das vezes, desconhecedoras ou com baixo índice de instrução ao processo de limpeza, dos riscos dos produtos, das sujidades e das conseqüências sanitárias aos seres humanos pelos resultados dessa operação.

O princípio geral da qualificação da ação dos produtos era o poder de espumar, quanto mais espumava melhor a performance do produto. A operação de higiene e limpeza, embora evoluída, cientificamente, ao longo dos anos, não ultrapassou todos os limites regionais e sociais ou o faz de forma lenta e regional, pois ainda encontramos em algumas cidades ou classes sociais, um baixo conceito e prática sobre os procedimentos e benefícios da higiene.




Lavar, Higienizar e Limpar não é somente uma operação simples e convencional, é um processo complexo e requer bastante tecnologia, pois tem como fundamento final a eliminação de risco físicos, químicos e biológicos que provocam danos a saúde do homem, as superfícies e ao meio ambiente, de forma direta ou indireta.

O desenvolvimento e as pesquisas sobre higiene, principalmente com relação à prevenção e combate às doenças e distúrbios gastrointestinais, provocou uma radical mudança na visão de que limpeza não é simplesmente lavar. O processo de higienização e limpeza foi aos poucos se profissionalizando com a abordagem de novos conceitos técnicos e metodológicos contrariando o princípio de que “cheirinho de limpeza” significa limpeza.

Os fabricantes de sabões e detergentes desenvolveram e incrementaram novos produtos e aditivos aos produtos já existentes com a finalidade de obterem melhores resultados no processo de limpeza. Esses fabricantes podem ser considerados grandes responsáveis pela impulsão e benefício dos conceitos de higiene e limpeza no Brasil, principalmente no Nordeste.

Atualmente (2007), apesar de toda tecnologia alcançada (máquinas, produtos, processos etc.), ainda é possível encontrar processos de higienização extremamente rudimentares, de alto risco operacional e baixo efeito de limpeza, características elementares da falta de conhecimento (ou consciência?) sobre higiene e limpeza.


FLUXO LÓGICO

           A higiene deve atender a um fluxo lógico que contemple o ambiente, métodos, processos e produtos.

O ambiente é a somatória dos tipos de superfícies e sujidades;
A metodologia é o programa estruturado de higiene a ser empregado;
Os processos são as técnicas e procedimentos operacionais padrões;
Os produtos [seleção dos ativos] são resultantes da identificação de substratos, sujidades e resultados requeridos pela higiene.

A lógica inicia no diagnóstico do sistema a ser limpo. O sistema é composto por três subsistemas; o primeiro subsistema (entrada) é composto pelo ambiente que é a combinação da superfície (classificação pelo tipo, forma e composição físico-química do substrato) e da sujidade (classificação das sujidades pelo tipo e composição físico-química). 

O segundo (processamento) é composto pelos métodos, (segurança nas formas de aplicação da limpeza se manual, mecânica etc.), processos (POP) e produtos (características físico-químicas etc.) e o terceiro (saída) pelos objetivos (ambiente limpo, seguro, saudável, segurança operacional, e responsabilidade ambiental) e metas (custo-matriz e custo operacional monitorado) da higiene e limpeza conforme mostra a figura a seguir.


                             Figura 1 – Lógica da Higiene e Limpeza



A lógica, para que os resultados possam ser almejados, parte do pressuposto de que os aplicadores conhecem e detém o domínio das fases do programa de limpeza desde o planejamento até a finalização do processo de higienização. A diversidade de sujidades, ambientes e produtos pode dificultar o poder de conhecimento pleno, porém a falta do mínimo conhecimento sobre o programa é inadmissível. 


COMPONENTES DA LÓGICA


A lógica é composta pelo conhecimento dos principais componentes envolvidos no processamento da limpeza como:
Ambiente: Substrato e sujidades;
Metodologia: Produtos e processos;
Segurança: Pessoal, ambiental, substrato e meio-ambiente;
Objetivos: reduzir riscos (limpar, higienizar, sanitizar, esterilizar etc.);
Meta: Custo-matriz, produtividade e rentabilidade;


Algumas questões devem ser abordadas como:
O substrato é sensível ao produto?;
O produto é eficaz para essa sujidade?
O processo é realizado com segurança?
O resultado é eficiente?

Segundo Vieira e Cabral [1] o que compromete o resultado final num processo de higienização é, sobretudo a falta de conhecimento dos usuários e de alguns fornecedores. Não se pode definir um programa de higiene desconhecendo alguns fatores que influem na higienização. Numa matriz mais abrangente ressaltam-se diversos parâmetros para que o processo de higienização seja aplicado adequadamente conforme descrito nos fatores mencionados pelo círculo skill. Limpeza é coisa séria e pode provocar diversas insatisfações e inconvenientes à população pela baixa ou falta de eficiência da mesma.

Os principais parâmetros são:

Água: (qualidade e quantidade);
Métodos e Processo de Higiene e limpeza;
Métodos de controle: financeiro (custo) e microbiológico (eficiência);
Tipos de Sujidades;
Procedimentos Operacionais Padronizados;
Produtos para higiene e limpeza: saneantes;
Segurança operacional;
Principais Substratos;
Monitoração: (auditoria e freqüência para eficiência, eficácia e custos);
Capacitação profissional.

Para que o programa de higiene e limpeza seja realizado é necessário conhece-lo para definir e planejar os métodos, processos e produtos, os tipos de sujidades, os substratos, a água ser utilizada, tanto para processo (diluição dos produtos, como para o enxágüe). Ainda assim, o sistema não estará completo. É necessária uma clara definição sobre a segurança dos operadores e usuários. Os operadores quanto aos riscos eminentes dos produtos de higiene e limpeza, os usuários quanto à garantia da segurança sanitária.




PARADOXO E PARADIGMAS DA HIGIENE E LIMPEZA

Partindo do princípio de que higiene é saúde e, também segurança, desde já se pode determinar que os administradores, supervisores, operadores que aplicam esse processo devem estar qualificados para planejarem, coordenarem e operacionalizarem as ações de higiene e limpeza em qualquer que seja o ambiente com prazos e freqüências predeterminada adequadamente.
É paradoxal quando o objetivo final (saúde) tem o foco científico, e o foco operacional (limpar) atua de forma empírica.
O processo está na direção oposta conforme mostra a figura a seguir.


  

                                       Figura 2 Visão paradoxal na higiene e limpeza



O processo de higienização e limpeza também sofre barreiras paradgimáticas. O conceito de higiene lembra diretamente a sujeira e é preciso romper essa barreira imediatamente. Os fabricantes usam tecnologia extremamente elevada na definição dos métodos, processo e produtos destinados a higienização, são rigorosamente fiscalizados pelos órgãos reguladores da saúde (ANVISA), porém na maioria das vezes são aplicados independentemente da sua necessidade.

De um lado a alta tecnologia e exigência sanitária (fabricantes), de outro, a falta de conhecimento na seleção, na aplicação e na busca do objetivo-fim da higiene e limpeza. Deve-se inverter a visão sobre o processo de higienização, ou seja, deixar de ver a higiene e limpeza como uma operação de remover sujeira e partir imediatamente para a dimensão sobre os benefícios da limpeza como conforto e segurança sanitária.


[1] Médico Veterinário, higienista de alimentos, professor do curso de Agronegócios da FTC_SSA: e-mail: guilherme.ssa@ftc.br. Médico Veterinário, Gerente de desenvolvimento de mercado, Unilever Brasil Diversey Lever. Trabalho sobre higiene e limpeza de frigoríficos divulgado no Grupo LUA [Laundry Universal Association] em 21/ago/2008.

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