segunda-feira, junho 18, 2012

Principais causas de dor em trabalhadores de uma lavanderia hospitalar






*Educador Físico, Membro Efetivo do ILAFIT, Especialista em Ginástica Médica
FICAB, Especialista em Exercícios Resistidos na saúde, na Doença e no
Envelhecimento - FMUSP, Mestre em Enfermagem/Saúde - FURG e
Membro Pesquisador do GESAES na
Fundação Universidade Federal do Rio Grande.
**Enfermeira, Administradora Hospitalar, Dra. em Enfermagem pela UFSC,
Professora Titular no Programa de Pós-graduação do Curso de Mestrado em
Enfermagem da FURG - Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Líder do GESAES.
 

Edison Alfredo de Araújo Marchand*
Hedi Crecencia Heckler de Siqueira** 

cafp@vetorial.net
www.vetorialnet.com.br/~cafp
(Brasil)
 



Resumo
    Este trabalho tem por objetivo conhecer as principais causas desencadeadoras de dor em trabalhadores de uma lavanderia hospitalar pública. Realizou-se um estudo de caso, descritivo e exploratório. Como sujeitos foram convidados todos os funcionários deste serviço. A coleta de dados processou-se através da observação e entrevista em relação ao teste de percepção da dor localizada. O conhecimento construído apontou como principais causas desencadeadoras da dor o ambiente no qual os sujeitos exercem sua atividade profissional, a organização do trabalho, as relações interpessoais no próprio ambiente de trabalho e com os demais serviços da instituição com os quais se relacionam, a capacidade de trabalho do próprio trabalhador e o tipo e a forma como cada um desempenha a sua atividade. Estes aspectos apresentaram-se de maneira inter-relacionada e demonstraram ser os principais fatores desencadeantes e interferentes na sintomatologia da dor dos trabalhadores.
Unitermos: Causas de dor. Trabalhadores de lavanderia. Hospital.
 



1. Introdução

Grande parte dos trabalhadores passam a maior parte do dia realizando tarefas que têm um grau de exigência variável. As variações podem exigir pouco esforço físico, como as atividades burocráticas, ou demasiado desgaste corporal, como os trabalhadores que desenvolvem atividades braçais. Além disso, essas atividades profissionais podem favorecer a realização de movimentos repetitivos, contínuos e, não raro, serem exercidas com posturas completamente ou em parte inadequadas, com ou sem utilização de equipamento adequado e em ambiente físico desfavorável.

Para refletir a respeito do trabalhador de uma área específica de um hospital, como a da lavanderia, é interessante tecer algumas considerações sobre o seu trabalho, no sentido, não apenas da estrutura e de sua forma, mas especialmente a respeito das relações dos homens entre si, bem como, com o ambiente no qual desenvolvem as suas atividades.



O Ministério da Saúde (1986) e Torres e Lisboa (2001) vêem que o trabalho do serviço de lavanderia hospitalar destina-se a atender os clientes do Hospital realizando a coleta, a separação, o processamento, a confecção, a marcação, o reparo, a reforma, o fornecimento e a distribuição de roupa em quantidade e qualidade, garantindo higiene às roupas que serão postas em uso. 

Konkewicz (2004) considera, como objetivo principal da lavanderia, processar a roupa suja e contaminada1 em roupa limpa, reduzindo a contagem microbiana para valores aceitáveis o suficiente para evitar a transmissão de doenças. Para que o processamento seja eficiente, este está na dependência da área física, de equipamentos adequados, de pessoal em número suficiente, treinado e habilitado, para desempenhar as atividades afim de atender as necessidades dos serviços que dependem do fornecimento de roupa higienizada para cumprir as atividades que lhes competem junto à clientela. É importante salientar que o grupo de profissionais que mais necessita do serviço da lavanderia, para cumprir com as suas atividades, é o da enfermagem. Para conseguir prestar um cuidado com qualidade é imprescindível contar com um bom serviço de lavanderia, obtendo desta, roupa higienizada em quantidade e qualidade suficiente para atender a clientela. Assim sendo, estabelecem-se relações e inter-relações constantes entre o serviço da lavanderia e com as unidades de atendimento da enfermagem.

Na área física é necessário observar: sistema de ventilação e exaustão, caldeiras para aquecimento de água, telas para janelas. Além disso deve ser fornecido e observado o uso de equipamentos de proteção individual (EPI)2. O seu uso traz segurança e maior tranqüilidade ao trabalhador: máscaras, botas impermeáveis, luvas de borracha, óculos, toucas e avental impermeável.

Além destes aspectos, o trabalho humano, social e culturalmente desenvolvido, necessita de organização para sua concretização. Dejours (1992) considera organização do trabalho a divisão do trabalho, suas etapas, a hierarquia adotada, as formas de comando, as relações entre os empregados e deles com as chefias e as responsabilidades de cada funcionário. Portanto, é necessário uma forma gerencial eficiente que permita a participação de todos nas tomadas de decisão e que valorize as potencialidades de cada trabalhador e assim, consiga despertar a sua auto-estima e conseqüentemente a motivação (SIQUEIRA, 2001).

Para Koonkewicz (2004), a organização do trabalho da lavanderia deve começar considerando a área física. Onde se deve atentar para que o processamento da roupa não seja realizado em um só ambiente da lavanderia, pois o manejo da roupa suja pode favorecer à recontaminação da limpa com microorganismos lançados ao ar.

Além das considerações sobre as condições de trabalho já salientadas, Astrand e Rodahl (1987) consideram que a capacidade do trabalhador de realizar o trabalho também é um fator a ser tratado com atenção. Alguns aspectos encontram-se diretamente relacionados a ela, tais como: aspectos biológicos e funcionais referem-se à energia mecânica, ao estado nutricional, à qualidade da alimentação, à capacidade cardiorrespiratória e aos mecanismos neurais e hormonais; aspectos somáticos - são os que abrangem a genética, o sexo, a idade, o estado de saúde e a antropometria; aspectos psicológicos - relativos à motivação, a comunicação e as relações interpessoais; aspectos externos - são os agentes poluidores do ambiente, a temperatura, poeira, roupa inadequada, maquinário impróprio, inadequado e deficiente em número e qualidade; aspectos de natureza do trabalho a ser realizado - onde se considera a posição adotada, as técnicas de execução, o ritmo e o horário observados de realização das tarefas.

Olhando nesta perspectiva é possível visualizar a organização - forma gerencial - como um elemento positivo ou negativo interferindo diretamente no desempenho do trabalho do trabalhador.

2. Metodologia

Este é um estudo de caso, descritivo- exploratório. Para a coleta de dados foram utilizadas entrevistas e observações. A entrevista continha questões de identificação do sujeito, questões fechadas, de resposta categórica (sim ou não) e o Teste de Percepção Subjetiva da Dor Localizada, composto de itens em escala de descritores verbais, onde o entrevistado indicou a freqüência3 (5 - sempre, 4 - freqüentemente, 3 - às vezes, 2 - raramente, 1 - nunca) e a intensidade4 (5 - dor insuportável, 4 - dor intensa, 3 - dor moderada, 2 - dor leve, 1 - sem dor) da dor localizada, que tiveram uma resposta específica, indicando-a no respectivo local do quadro apresentado.

Com a finalidade de conhecer o tipo de atividade profissional desenvolvida, foi realizado um estudo observacional objetivando conhecer a posição dominante adotada durante a realização da atividade, os movimentos predominantemente utilizados, os esforços exigidos e o modo de execução das atividades profissionais.

Com a finalidade de conhecer a atual situação da área física foi realizado um estudo observacional sobre o local de trabalho. Observou-se a temperatura, o barulho, os vapores, as poeiras, a ventilação, as fumaças e a presença de produtos químicos, a distribuição da área física, o uso de equipamento de proteção, a forma de realizar o trabalho, o horário dos trabalhadores, uso do equipamento para desempenhar o trabalho.

Em atenção aos aspectos éticos, cada participante recebeu esclarecimento a respeito da pesquisa e seus objetivos, Além disso, foi informado a respeito da privacidade, do sigilo, do anonimato, assegurando-lhe a confidencialidade das informações. Em respeito à resolução 196/96 foi solicitado aos participantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O Termo foi assinado em duas vias, ficando uma com o participante e a outra com o pesquisador.

3. Resultados

O teste de percepção subjetiva da dor localizada objetivou identificar os pontos de freqüência e intensidade de dor. Quando foi perguntado se o sujeito sentia dores em seu corpo ao realizar as suas atividades, 11 relataram queixa de dor e somente um não referiu dor (único que não exercia o trabalho braçal da lavanderia).

Os pontos do corpo foram divididos em vista frontal e dorsal. Os da vista frontal (Figura 1) foram identificados por números de um a 10, e os números entre parênteses representam os números de queixas para cada um dos pontos. Estes apresentaram as seguintes queixas, respectivamente: 1.ombro direito (5); 2. ombro esquerdo (5); 3. cotovelo direito (0); 4. cotovelo esquerdo (1); 5. punho direito (6); 6. punho esquerdo (4); 7. joelho direito (3); 8. joelho esquerdo (4); 9. tornozelo direito (4); 10. tornozelo esquerdo (3).

Uma vez realizada a contagem de queixas de dor para cada ponto, foi feita a descrição da freqüência e da intensidade desses pontos. Foi observado que no ponto número 5 da vista frontal ocorreram as maiores freqüências de dor, apresentando seis queixas, sendo três destas com o equivalente 5 (sempre) da escala, duas com o equivalente 3 (às vezes) e um com o equivalente 4 (freqüentemente). Este ponto também registrou as maiores queixas de intensidade de dor. Sendo assim distribuídas: duas queixas para a intensidade 3 (dor moderada), uma para intensidade 4 (dor intensa) e três para intensidade 5 (dor insuportável).

Os pontos da vista dorsal (Figura 1) foram identificados por números de um a sete e os números entre parênteses representam os números de queixas para cada um dos pontos. Esses apresentaram respectivamente as seguintes queixas: 1. coluna cervical (4); 2. coluna torácica (4); 3. coluna lombar (6); 4. coxa esquerda (1); 5. coxa direita (2); 6. perna esquerda (2); 7. perna direita (1). A descrição da freqüência e da intensidade dos pontos desta vista revelaram que o ponto número 3 apresentou o maior número de queixas, seis, tanto de freqüência como de intensidade. As freqüências 2 (raramente) e 3 (às vezes) apresentaram a maioria das queixas, sendo duas para cada uma, respectivamente, e as freqüências 4 (freqüentemente) e 5 (sempre) apresentaram uma queixa cada. As intensidades 2 (dor leve) e 3 (dor moderada) apresentaram uma queixa cada, porém as intensidades 4 (dor intensa) e 5 (dor insuportável) registraram duas queixas cada.

As observações demonstraram que, na função de dobragem, distribuição, centrifugação, secagem, coleta e lavagem, a posição dominante foi em pé. Os movimentos dominantes nas funções de dobragem, centrifugação, secagem, coleta e lavagem foram os realizados com os membros superiores em suspensão (flexão e extensão), porém na função de distribuição foi de empurrar carrinhos do tipo de supermercado. Os esforços exigidos nas funções de dobragem, distribuição, coleta e lavagem, foram carregar as roupas secas. Nas funções de centrifugação e secagem, o esforço era carregar roupa molhada. O modo de execução das atividades nas funções de dobragem, centrifugação, secagem, coleta e lavagem foram caracterizados por apresentarem flexão do tronco com os membros inferiores estendidos e rotação do tronco estando este em flexão.

As atividades desenvolvidas na área da costuraria, foram caracterizadas por apresentarem a posição dominante sentada e com flexão do pescoço. Os movimentos dominantes foram realizados com os membros superiores em suspensão (flexão e extensão) e os esforços exigidos foram as manipulações com roupas já processadas vindas da área limpa.

As observações quanto ao local de trabalho revelaram que o ambiente da área limpa apresentava: temperatura elevada, pouca ventilação, luminosidade regular, barulhos provenientes das máquinas de secar, lavar e centrifugar, vapores provenientes das máquinas de secar, limpeza deficiente com poeiras provenientes das máquinas de secar roupas, retalhos de roupas, luvas cirúrgicas, resíduos de lixo e pó, presença de produtos químicos como germicidas em pó, acidulantes e sabão em pasta e não apresentava fumaças. Entretanto, na área suja, o barulho era proveniente das máquinas de lavar, apresentava resíduos de lixo e pó, não havia presença de produtos químicos, fumaças e vapores e a temperatura, a ventilação e a luminosidade eram semelhantes às da área limpa.

4. Discussão dos resultados

Primeiramente serão discutidos os resultados da avaliação de percepção da dor localizada, a seguir o tipo de atividade profissional exercido pelos trabalhadores e o seu local de trabalho. A dor é considerada um problema de saúde pública, que poderá causar sofrimento, incapacidade e comprometimento da qualidade de vida e da saúde do ser humano. Ela é a principal responsável pela qual 75 a 80% da população busca os serviços de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). O sintoma doloroso afeta aproximadamente 30% das pessoas em algum momento de suas vidas e permanece com duração superior a um dia, em 10 a 40% dos casos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDO DA DOR, 2004).

De acordo com Herman e Scudds (1998), a dor é uma experiência perceptiva diferenciada para cada sujeito. Este fato foi evidenciado nos resultados dos testes de percepção subjetiva da dor localizada, onde as queixas de dor, assim como suas freqüências e intensidades, foram diferentes para cada sujeito desta pesquisa. Destaca-se aí a importância em considerar a individualidade de cada um, respeitando as diferenças morfofisiológicas, funcionais e perceptivas. O fato de todos serem trabalhadores de um mesmo setor e desenvolverem muitas tarefas semelhantes, não representou igualdade na percepção quanto a sintomatologia, freqüência e intensidade da dor.

Merlo et al (2003) concordam com a necessidade de reconhecimento das diferenças individuais, mesmo em locais em que os sujeitos partilhem coletivamente do mesmo tipo de trabalho. Os autores enfatizam ainda que, à grande maioria dos trabalhos estão organizados objetivando o aumento da produtividade mas, que se desconsideram as diferenças individuais, e conseqüente a isso existe o aumento da carga física e psíquica dos trabalhadores.

Para o Ministério da Saúde (2002), a dor poderá causar comprometimento da qualidade de vida e da saúde do ser humano. Esta manifestação de comprometimento foi observada, neste trabalho, quando os sujeitos relataram queixas de dor ao realizarem suas atividades profissionais.

De acordo com Walsh et al. (2004), Júnior e Assunção (2005), fatores biomecânicos envolvidos na realização do trabalho associados à persistência de sintomas de dor podem contribuir para a promoção de lesões músculo-esqueléticas e para a redução da capacidade de trabalho. Esse desconforto causado pelo sintoma doloroso representa um problema de saúde que atinge, paralelo a ela, a qualidade de vida, comprometendo a capacidade de trabalho e conseqüentemente, o bom desempenho do serviço do setor e a sobrecarga aos demais funcionários em função do abalo físico daquele que se encontra acometido de dor e, assim, existe comprometimento com a produtividade. Este resultado influenciará no cuidado da clientela porque as unidades de atendimento necessitam de roupa higienizada fornecida como produto da lavanderia. Na instituição hospitalar os serviços devem funcionar interconectados constituindo uma totalidade. Cada serviço da instituição influencia e é influenciado, tanto pela forma de se inter-relacionar como pela qualidade e quantidade do produto que fornece para que os demais serviços que dele dependem consigam completar o seu processo de trabalho (SIQUEIRA, 2001).

Porém, qualidade de vida no trabalho também é representada pela organização institucional, considerando tanto o processo administrativo, como também a satisfação dos sujeitos ali envolvidos. Para alcançar esse fim, Schermerhorn et al (1999), Siqueira (2001), Merlo et al (2003) consideram como necessárias à participação de todos os sujeitos nas tomadas de decisões. O trabalhador ao possuir maior liberdade no trabalho, quando é respeitado como pessoa, sente maior confiança, mais estímulo e assim apresenta melhor desempenho no trabalho.

Os dados sobre os tipos de atividades profissionais desenvolvidas levam a concluir que verificando as posturas, as funções exercidas, os movimentos dominantes e os esforços exigidos pelos sujeitos, no cumprimento de suas funções, observou-se que todos estes aspectos eram realizados sem a devida orientação a respeito do que seria a melhor mecânica corporal para realizá-los com menor desgaste físico, obter maior resultado, com menor possibilidade de sentir cansaço e conseqüentemente dor.

Os trabalhos de Astrand e Rodahl,(1987); Brandão; Horta; Tomasi (2005) e Júnior e Assunção (2005) referem resultados semelhantes aos encontrados nesta pesquisa.

A baixa aptidão física foi percebida, principalmente, na realização das atividades da área suja em função dos relatos de fadiga. Esses dados vem reforçar conforme Silva et al (2004) a relação inadequada entre carga de trabalho e a capacidade de trabalho de cada trabalhador. A área suja da lavanderia, segundo Torres e Lisboa (2001) e Vergílio et al (2002) é caracterizada por um trabalho braçal cansativo e repetitivo, exigindo grande esforço por parte do trabalhador. Esse esforço quando superior a capacidade da aptidão física pode resultar em fadiga e conseqüentemente em dor.

Astrand e Rodahl (1987) consideram os aspectos da natureza do trabalho a ser realizado como fatores determinantes na capacidade de realizar o trabalho e na fadiga. Torres e Lisboa (2001) associam a fadiga com a baixa capacidade funcional do organismo, sendo a capacidade muscular a mais exigida durante a realização das atividades na lavanderia hospitalar. Walsh et al. (2004) apontam a dor como responsável por 30% de incapacidade para a realização do trabalho. Movimentos de flexão, extensão e rotação de tronco, flexão e extensão de membros superiores e caminhar empurrando e puxando carrinhos são rotineiros e realizados freqüentemente com sobrecarga, seja com roupa seca ou molhada. De acordo com Silva et al (2004) este tipo de movimentos realizados com freqüência e exigindo um grande esforço são causas de desgaste físico que poderá traduzir-se, ao longo do tempo, por dor. A busca de opções que diminuam o uso da força física contribui para melhorar a saúde e o bem estar do trabalhador. Porém Merlo et al (2005) percebem que a adoção de novas tecnologias por parte da organização, em primeiro lugar, objetiva, geralmente, a maior produtividade e posterior a isso a redução da carga de trabalho que se reflete na redução do desenvolvimento de doenças ocupacionais. Merlo et al (2001) consideram que a inclusão de exercícios físicos para os trabalhadores, dentre outras, uma estratégia que pode ser capaz de reduzir a incidência do problema da dor.

Os dados sobre o local de trabalho desta pesquisa revelam aspectos positivos como: ser uma construção horizontal, no andar térreo, com área construída superior a necessária por leitos e apresentar barreira física entre as áreas suja e limpa, atendendo a legislação em vigor (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1986; TORRES E LISBOA, 2001). Alguns aspectos negativos foram encontrados: a área física além de mal distribuída, encontra-se dentro da área hospitalar, não há sanitários masculino e feminino separadamente, não são feitos sistematicamente reparos e pinturas nem nos equipamentos nem na estrutura física; as janelas estão acima da altura recomendada dificultando a ventilação e a luminosidade e o piso da área suja é inadequado porque não é gradeado, sendo um aspecto que predispõe a acidentes na superfície molhada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1986; TORRES E LISBOA, 2001; VERGÍLIO et al, 2002; KONKEWICZ, 2004).

Brandão et al (2005) consideram que trabalhadores que encontram problemas no seu posto de trabalho, quando comparados aos que não tem, aumentam em duas vezes a chance de ter manifestação de sintoma doloroso. Frente a estas observações e considerações sobre a área física evidencia-se que ela exerce influência não apenas nos funcionários, mas também nos usuários deste serviço. Considerando os problemas advindos das questões detectadas, é possível vislumbrar os riscos de infecções a que estão expostos todos os que fazem uso deste ambiente, tanto os que nele trabalham como os que recebem o produto que aí é produzido.

5. Conclusões

A pesquisa demonstrou que, as posturas, as posições, os movimentos e os esforços dominantes adotados pelos trabalhadores durante a realização das atividades no Serviço de Lavanderia Hospitalar do HU, foram causadores de sintomas dolorosos, manifestados tanto na sua intensidade quanto na sua freqüência, em todas as regiões corpóreas indicadas como queixas de pontos de dor. Isto vem reforçar de que alguns problemas de saúde podem ser desencadeados em função: da atividade profissional exercida, de fatores ambientais, da estrutura física, como também pela falta de aptidão física para executar essas atividades. Portanto, a atividade profissional não necessariamente contribui para a boa aptidão física; e o tipo de atividade e a forma de realizá-la pode favorecer o aparecimento de sintomas dolorosos, reduzindo a capacidade de trabalho e diminuindo a qualidade de vida.

Outra consideração a ser ressaltada é a importância que deve ser dada ao investimento no ambiente físico, vindo com isso a melhorar a capacidade de trabalho. Olhando o ambiente físico em relação à dor, constata-se que alguns aspectos podem contribuir para o aparecimento de queixas de dor, tais como: a falta de piso gradeado junto às máquinas de lavar, aumentando as chances de acidentes como quedas; a falta de balança para pesar a roupa favorece a sobrecarga da capacidade das máquinas, aumentando o esforço do trabalhador, levando-o a queixas de dor; a falta de manutenção periódica das instalações e dos equipamentos leva à sobrecarga do equipamento e conseqüentemente, dos funcionários; a falta de ventilação natural e a ausência de termômetros facilita o aumento despercebido da temperatura ambiente, refletindo na redução da capacidade de trabalho pelo calor, causando cansaço e mal estar; e a negligência do uso de equipamentos de proteção individual favorece a contaminação por agentes patogênicos, bem como pode provocar lesões por perfurocortante, entre outros.

As relações inter-pessoais no próprio ambiente de lavanderia, assim como com as demais unidades do HU, é um aspecto que deve ser revisto e melhorado objetivando fortalecer essas relações. Além disso, é necessário buscar o comprometimento do grupo como um todo em relação as tomadas de decisões na organização do trabalho. O comprometimento do grupo poderá ser alcançado com a abertura do diálogo, da discussão entre as partes favorecendo uma participação ativa nas tomadas de decisão no coletivo. Essa medida poderá viabilizar encontrar estratégias para encaminhar soluções pertinentes às questões problemas, oportunizando melhorar a relação dos funcionários com as chefias, administração e direção, e especialmente com os serviços que dependem do seu produto para cumprir com a parte da missão institucional que lhes cabe. Redirecionando estes fatores será possível obter maior valorização pessoal e o reconhecimento da importância e da necessidade do serviço prestado por esse setor.

Essas medidas poderão ser consideradas fatores desencadeantes da motivação, capazes de aumentar a auto-estima, a satisfação em trabalhar, melhorar a qualidade do serviço, a produtividade e, especialmente, a qualidade de vida e as condições de saúde do trabalhador e do usuário.

Portanto, pode-se concluir que variados problemas de saúde podem ser desencadeados em função do tipo e da forma que a atividade profissional é exercida pelo trabalhador. Além disso, os problemas de saúde podem ser originados pela falta de capacidade de realizar o trabalho ou ainda, pelas más condições do ambiente de trabalho, bem como pelas relações inter-pessoais. As relações inter-pessoais se referem tanto as que ocorrem no próprio serviço da lavanderia, como nos e entre os serviços que fornecem a matéria prima (roupa suja) para ser transformada e nos e entre os serviços que necessitam do seu produto (roupa limpa) para prestar o atendimento/o cuidado ao cliente. Salienta-se, sobretudo a necessidade de uma forma gerencial que venha ao encontro das necessidades dos trabalhadores, dando ênfase às relações pessoais, enfatizando as suas potencialidades e auto-estima. Percebe-se que grande parte das questões apontadas pelos trabalhadores poderiam ser resolvidos, sem grande investimento, mas com uma forma gerencial mais efetiva. A busca de mudanças no ambiente de trabalho pode ser capaz de suprir as necessidades dos trabalhadores e, assim, amenizar o desgaste físico, o mal estar, a dor e trazer mais prazer e satisfação no trabalho.

Notas
  1. Roupa contaminada é a que contém sujidade de matéria orgânica como sangue, urina, fezes, secreções e excreções. Roupa não contaminada é a que não apresenta esse tipo de sujidade.
  2. A sigla EPI significa equipamentos de proteção individual.
  3. É determinada pela periodicidade dos eventos dolorosos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDO DA DOR, 2004).
  4. É a determinação quantitativa da dor (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDO DA DOR, 2004).
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