Maria Gorete Felipe,
Dorivalda Santos Medeiros,
Sânia Maria Belísio de Andrade.
RESUMO
O exercício da atividade têxtil envolve profissionais de várias áreas e para que a
comunicação entre eles possa fluir bem é necessária uma perfeita compreensão e
domínio do vocabulário usado na denominação dos produtos, processos, materiais - em
especial os tecidos - cuja composição, estrutura e tipo de fibra utilizada têm muitas vezes
seus conceitos confundidos. Como exemplo ‘cetim’, que é um termo que pode designar
tanto a ligação ou estrutura em que o tecido foi produzido, como caracterizar um tipo de
tecido de aspecto leve, flexível, macio e com alto brilho. Porém pode-se ter o cetim de
algodão que possui aspecto opaco, mas cetim referindo-se à sua ligação. Foram feitas
análises da nomenclatura dos tecidos mais usados atualmente, com isso vários tipos de
tecido estão sendo reunidos em um mostruário, contendo informações sobre sua origem,
ligação ou estrutura, tipo de fibra, nomenclatura técnica e/ou comercial dentre outras.
Através destas análises verificou-se que muitas vezes a nomenclatura dos materiais
têxteis está relacionada ao tipo de fibra usada, sua origem e história, cidade onde surgiu,
nome do inventor, etc. Com a elaboração desse mostruário pretende-se desenvolver um
material didático para os alunos do Curso de Engenharia Têxtil da UFRN e alunos de
cursos correlatos, que fazem uso destes materiais e que têm dúvidas quanto à sua
nomenclatura.
Palavras-Chaves: tecidos, nomenclatura, mostruário.
APRESENTAÇÃO
Este trabalho tem como objetivo servir de instrumento de pesquisa para alunos do
Curso de Engenharia Têxtil e demais alunos ou pesquisadores de áreas correlatas,
produtores - em especial os micro e pequenos e artesãos - e consumidores de artigos
do vestuário, que desejem ou necessitem conhecer alguns aspectos relacionados aos
tecidos, tais como sua origem, tipo de ligação ou estrutura (padronagem), tipo de fibra,
terminologia técnica e/ou comercial, dentre outros.
2. INTRODUÇÃO
O exercício da atividade têxtil se processa mediante a interação de profissionais de
várias áreas, tais como fibras, fios, tecidos, beneficiamentos, estilismo e moda,
marketing, etc.
Para que o processo de comunicação entre eles possa ocorrer com
naturalidade, desenvoltura e clareza, faz-se necessária uma perfeita compreensão e
domínio do vocabulário usado na denominação dos conceitos destas áreas, tais como
os materiais (tecidos e aviamentos), que serão objetos de destaque para os tecidos cuja
composição, estrutura e tipo de fibra utilizada em sua manufatura têm muitas vezes os
seus conceitos confundidos. Por isto foi realizada uma vasta pesquisa bibliográfica,
onde se verificou que de acordo com fontes históricas, oriundas de etnólogos, os
primeiros tecidos datam do início da Idade do Bronze e provêm da arte dos cesteiros,
por volta de 5000 a.C.
Os primeiros têxteis foram descobertos nas turfeiras da Europa Setentrional. Esses
primeiros tecidos eram em armação ou ligação tela, muito parecida com a atual: o
entrelaçamento de um fio longitudinal com um fio transversal, que reproduzia um
módulo básico, um fio tomado e outro deixado, entrecruzando-se indefinidamente.
Depois vieram mais duas armações: a sarja e o cetim. Estas são, até hoje, as três
armações básicas de todos os tecidos planos. Sendo assim, o tecido é um produto
resultante de entrelaçamento de fios, podendo ser dos tipos: plano ou comum e tricô
ou malha.
O tecido plano ou comum é constituído por dois grupos de fios – urdume e trama –
que se entrelaçam perpendicularmente. O entrelaçamento de urdumes e tramas
obedecem às regras ou seqüências de entrelaçamento que conferem aos tecidos
características próprias como: aspecto visual, maleabilidade, resistência à abrasão,
resistência ao esgarçamento e resistência à tração. O entrelaçamento de urdumes e
tramas obedecem às regras que dão nome ao desenho têxtil e ao tecido. À forma de
entrelaçamento se dá o nome de ligação, armação ou padronagem.
As ligações podem ser: fundamentais (tela, sarja, cetim), derivadas (de tela, de sarja e
de cetim); compostas (resultantes de modificações, combinações e junções de ligações
fundamentais e derivadas), e especiais (não seguem as regras anteriores, produzem
tecidos especiais).
O tricô é um tipo de artesanato que remonta ao Egito antigo. Consiste no
entrelaçamento de uma laçada de linha ou fio com outra, utilizando-se duas agulhas.
No passado, o tricô à mão era muito usado tanto para roupas funcionais quanto para
roupas decorativas, em regiões rurais onde a lã era abundante. No século XIX, já se
empregavam máquinas para produzir o tricô. Estes tecidos ficaram conhecidos
também como malha. O tecido de malha é resultado da formação de laços que se
interpenetram e se apóiam lateralmente e verticalmente, oriundas de um ou vários fios,
através do processo de tricotagem.
A produção global de artigos têxteis tem crescido muito, o que leva a necessidade de
se formar profissionais com alto grau de especialização com relação às tecnologias
aplicadas na sua produção. Para isso são necessárias operações de transformação
industrial, tais como: fiação (cardagem, penteagem, etc.), tecelagem (engomagem,
urdissagem, etc.), acabamento ou beneficiamento (tingimento, estamparia,
mercerização, etc), onde é fundamental que se tenha conhecimento das características
e propriedades das fibras têxteis.
As fibras têxteis são elementos filiformes caracterizados pela flexibilidade, finura e
um maior comprimento em relação à sua dimensão transversal máxima. Elas podem
ser contínuas ou descontínuas. As contínuas não têm limite definido de comprimento.
As descontínuas têm comprimento limitado a alguns centímetros conforme seja a
necessidade.
Podem ser: Naturais e Químicas (manufaturadas).
São Naturais:
- Vegetais: de semente (algodão); de caule (linho, rami, cânhamo); de folha (sisal); de fruto (coco);
- Animais: de secreção glandular (seda); de pêlos (lã);
- Minerais: (amianto ou asbestos)
Químicas
- Regeneradas (acetato, viscose, modal, etc.);
- Sintéticas (poliéster, poliamida, poliacrílica, etc.)
A história da utilização dos materiais têxteis se confunde com a história da própria
humanidade. O uso de elementos têxteis para agasalhar e proteger o corpo é uma das
mais remotas atitudes humanas, que remete-se praticamente à Pré-história. Já naquela
época os animais sacrificados para alimentação tinham suas peles retiradas e
transformadas em roupas rústicas, com o pêlo voltado para o corpo do usuário, a fim
de protegê-lo contra o frio.
Desde que o homem quis usar outras vestes que não a pele dos animais, teve de
encontrar meios para fabricar tecidos. Isso sucedeu nos tempos mais remotos da
história humana e em várias zonas do mundo, mais ou menos ao mesmo tempo.
Alguns povos, mais avançados do que outros encontram rapidamente a forma de fiar e
de tecer. Outros demoraram mais tempo. Talvez não tivessem a mesma necessidade de
tecidos, por viverem em climas mais ameno, de forma que foi assim teve início a arte
têxtil.
Depois, o que começou por ser apenas uma necessidade, transformou-se num meio
para definir a classe social, o clã, a etnia, o povo a que se pertencia. Ao objetivo inicial
do tecido (o de vestir), uniu-se um outro: utilizá-lo para marcar a diferença entre os
homens. Isto deu origem aos intercâmbios de tecelões do mundo inteiro. A arte têxtil
depressa se transformou num poder imenso que incentivava os artesãos a cada vez se
aperfeiçoarem nos seus ofícios e a conseguir produzir trabalhos cada vez mais
requintados e bonitos.
É difícil saber com precisão que forma tinham os tecidos naquelas épocas tão
longínquas, dado que os tecidos eram de materiais naturais, portanto, frágeis e não
podiam resistir em boas condições à passagem do tempo durante muitos séculos. Mas
pode-se verificar o alto nível de conhecimentos que os nossos antepassados possuíam
em matéria de tecidos, através de alguns tecidos sassânidas (persas) ou coptas
(egípcios) do século III da era atual. Porém, todo este saber, esta cultura têxtil,
demorou muito tempo a atravessar as fronteiras. Foi apenas no final da Pré-história
que os habitantes da Península Ibérica descobriram o algodão. Na gruta de Vall de
Serves, em La Llacuna (Barcelona), foi encontrado um pedaço de tecido de algodão
muito bem trabalhado, possivelmente oriundo do Médio Oriente.
Os primeiros tecidos de que se tem notícia foram obtidos na Índia por volta de 3.000
anos a.C. No norte da Europa e na Índia, antes de Cristo, já se trabalhava o cânhamo.
Tecidos de linho no Egito e tecidos de seda na China são registrados no século I a.C.
A seda veio do Extremo Oriente para a Europa por Veneza e Roma, graças ao
dinamismo de Júlio César e Aurélio. Era muito cara devido ao longo e perigoso
caminho que tinha de percorrer. Chegava a Roma à preço de ouro. Não havia forma de
consegui-la mais barata, uma vez que os Chineses guardavam ciosamente os segredos
da sua elaboração. Na Roma antiga, a seda não era utilizada para as indumentárias,
mas apenas para enfeitar os teatros.
Durante a Idade Média, o algodão e o linho entraram na Península Ibérica pela mão
dos mulçumanos. Tratava-se de materiais muito influenciados pela tradição bizantina.
Chegaram, durante os séculos XII e XIII, ao Sul da Península, a cidades como
Almeiria, Granada e Sevilha.
Como os fios de algodão eram finos e fortes, os tecelões espanhóis tentaram obter um
novo tecido: o fustão. O urdume era de algodão, e a trama, de lã. Tecia-se com o ponto
de sarja no intuito de dotar o tecido de solidez e suavidade. O fustão teve muito êxito
em toda a Europa durante cerca de quatro séculos.
Durante os séculos XV e XVI era considerado um luxo o fato de se possuir tecidos
requintados com desenhos complicados, damascos, cetins coloridos, bombazina, peças
de vestuário de linho em ajour, cortinas de seda, roupas tecidas com fios de ouro e
com incrustações de pérolas ou pedras preciosas. Os Orientais trouxeram consigo o
camelão, tecido muito bonito e caro feito de pêlo de cabra. Outros dão-nos a conhecer
o chamalote, tecido de pêlo de camelo fiado muito fino. Os Árabes trouxeram técnicas
muito avançadas na arte de tingir os fios; utilizando substâncias retiradas das plantas e
dos animais para dar cor aos tecidos que, até então ficavam quase sempre brancos,
crus ou da cor da pelagem do animal. Deste modo o saber de uns misturava-se com os de outros.
Depois do século XVI, continuam a elaborar damascos muito ricos. Com a
cultura intensiva da amoreira em certas zonas, a Europa começa a produzir seda. Os
tecelões utilizaram-na tal como fazia com o algodão ou o linho para tecer o damasco,
mas neste caso, o tecido recebeu o nome de brocado. Os tecidos finos e simples
continuaram a ser valorizados nas roupas caseiras, e o fato de se possuírem muitos
produtos tecidos era um sinal de riqueza.
Durante séculos, os fios e tecidos foram
feitos à mão, sem que grandes progressos tivessem ocorrido em termos de
mecanização dos seus processos.
No século XVIII, começaram a aparecer os primeiros desenvolvimentos em
instrumentos e aparelhos para fiar e tecer, culminando com a invenção do filatório
Jenny por James Hargreaves em 1764 e do tear mecânico experimental, por Cartwright
em 1785. Á partir do final do século XVIII chega à Europa tecidos exóticos. A Europa
tornou-se um mercado acolhedor para todos os tipos de tecidos de cores vivas e
materiais até então desconhecidos.
O século XIX marca a grande mudança acontecida no mundo, com a Revolução
Industrial na Inglaterra, quando aparecem os teares mecânicos, aperfeiçoados em 1822
e o filatório de anéis em 1828. Daí em diante houve uma fantástica evolução, que
atinge na década de 1990, níveis notáveis de desenvolvimento em máquinas e
processos de fiação, tecelagem, malharia e beneficiamento, que permitem a produção
de materiais de altíssima qualidade com economia e excelente grau de precisão, graças
também aos modernos sistemas de informatização.
4. TECELAGEM
A Tecelagem é uma das primeiras artes que o homem conheceu. Egípcios, persas,
assírios, fenícios, incas e outros povos dedicaram-se meticulosamente a essa atividade
e tornaram-se notáveis pela sua habilidade.
Tecelagem é o processo pelo qual se transforma uma fibra suscetível de produzir um
fio, em um tecido. É a arte de entrelaçar fios e de cruzá-los entre si de forma ordenada
e graciosa. Alguns arqueólogos garantem que a tecelagem tem cerca de 32.000 anos.
Porém a arte de tecer se conhece há 2.000 anos e se mantém a mesma com relação aos
seus princípios básicos até hoje. Originalmente, este processo era totalmente manual,
mas com o advento da industrialização passou a ser automatizado.
A máquina que efetua o cruzamento dos fios, produzindo o tecido, chama-se tear. Os
teares podem ser classificados em função do processo de introdução da trama, como:
de lançadeira, sem lançadeira, de projétil, de pinças e a jato de água.
Os tecidos podem ser construídos através da ordenação de dois sistemas de fios que se
cruzam perpendicularmente: o urdume que são os fios que se encontram no sentido
longitudinal representando o comprimento do tecido e a trama que são os fios que se
encontram no sentido transversal, representando a largura do tecido, neste caso
denomina-se os tecidos assim produzidos de tecidos planos.
A partir de fios e entrelaçamentos, foi possível ir modificando o aspecto dos tecidos,
combinar texturas e diversificar infinitamente o seu aspecto, formando os motivos ou padrões a partir do próprio ato de tecer, isso muito tempo antes de surgir a técnica da
estamparia, como é o caso do damasco, brocado e outros.
Os tecidos são produzidos entrelaçando-se os fios conforme uma estrutura, ou ligação
em tela onde os fios da trama e do urdume se entrecruzam alternadamente; sarja onde
o entrelaçamento dos fios define uma diagonal e cetim em que o entrelaçamento dos é
caracterizado por flutuações dos fios de urdume resultando num aspecto brilhante, que
o destaca em relação aos outros ligamentos. Todas estas ligações são distintas e se
constituem no princípio básico da tecelagem.
5 MALHARIA
A malharia é um processo industrial para a obtenção de tecidos de malha (tricô), a
partir do entrelaçamento de um fio consigo mesmo ou com fios laterais, resultando daí
os dois tipos existentes de malharia ou tricotagem.
Não se sabe ao certo quando apareceram os primeiros tecidos de malha. No Victoria
and Albert Museum, de Londres existe um pedaço de malha tricotada a mão pelos
egípcios no século XII a.C. e no Museu do Louvre em Paris, também existe peças de
tecido de malha encontradas em escavações feitas no Egito. Transcrevendo o
pensamento de Nilkemm, segundo o qual o tecido que Penélope fazia esperando que
Ulisses voltasse da guerra (lenda do tear de Penélope) era um tecido de malha, pois do
contrário seria impossível desfazer à noite o trabalho realizado durante o dia, seria
então, o tear de Penélope, uma rústica máquina de malharia? Consta que, nos
primeiros séculos de nossa era, os tecidos de malha eram fabricados por gregos e
romanos. Somente por volta do século XIII apareceram na França as primeiras peças
de tecido de malha. Até então não se tinha notícia de nenhuma fabricação mecanizada
desse tipo de tecido. Somente no século XVI apareceu a primeira máquina de
malharia, invento atribuído ao reverendo inglês William Lee, no ano de 1589. A
máquina inventada era supostamente uma máquina retilínea, uma vez que a invenção
da máquina circular registrou-se no ano de 1798. Com relação à malharia por
urdimento as atuais máquinas derivam de um tear inventado em 1775 pelo inglês
Crane.
Os tecidos de malha, pela sua própria estrutura, resultam em materiais muito mais
elásticos, flexíveis e macios do que os tecidos planos. Podem ser: malharia por trama
- jerseys, piquês, felpas, ribs e jacquards e malharia por urdume - jerseys e tecidos
rendados e trabalhados. As máquinas de malharia por trama mais conhecidas são: as
Retilíneas, que produzem tecidos abertos, e as Circulares, que produzem tecidos
tubulares.
As máquinas de malharia por urdume mais usadas são a Kettenstuhl, que produz
primordialmente o tecido jersey, e a Raschel, que produz principalmente tecidos
rendados e trabalhados.
ENDEREÇO / ADDRESS
Dorivalda Santos Medeiros, Sânia Maria Belísio de Andrade, Maria Gorete Felipe.
Departamento de ngenharia Têxtil - UFRN
Natal-RN 59078-970
dorivaldasm@hotmail.com
Dorivalda Santos Medeiros, Sânia Maria Belísio de Andrade, Maria Gorete Felipe.
Departamento de ngenharia Têxtil - UFRN
Natal-RN 59078-970
dorivaldasm@hotmail.com
gostei da pagina me acrescentou muito.
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