A
sensibilização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para
aplicação de normas técnicas é uma das metas das Comissões de Estudo da
normalização de artigos têxteis e não-tecidos para uso odonto-médico-hospitalar.
A gestora do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário (ABNT/CB-17) Maria
Adelina Pereira comenta que a certificação de produtos “facilitaria enormemente
o atendimento de editais e viabilizaria a redução do custo no de tempo da compra.
Os usuários e profissionais da saúde, principalmente, contarão com produtos
confiáveis que venham a garantir a qualidade e a segurança do atendimento”.
A importância do enxoval é medida pela qualidade da “estada” do cliente e usuário hospitalar e não existe qualidade ao “deitar” numa cama (leito) sem lençóis, independente do nível de exigência do mesmo. A exigência é proporcional a necessidade. Quanto maior a necessidade menor será a exigência.
A
lavanderia apresenta como fonte de solução da limpeza e higienização do enxoval
hospitalar, porém ainda é uma grande lacuna entre o “estado problemático”
(roupa suja e usada) e o “estado da arte” (roupa limpa e higienizada).
Os riscos
operacionais (sanitários, comportamentais, ergonômicos), segurança (acidentes
físicos, químicos e biológicos), ambientais (biossegurança, descarte de
resíduos do processo) e sociais (pacientes, usuários e sociedade), formam o
ciclo vicioso do estado problemático. A gestão dessas restrições e os
resultados definem o “estado da arte”.
A lacuna
pode estar na cultura. O processamento da roupa ainda é apontada como a remoção
das sujidades. Raramente como a preparação do enxoval para o conforto e a
segurança sanitária dos usuários. A lacuna pode estar na cultura.
O enxoval
hospitalar tem um ciclo operacional e como tal deve ser analisado em todas as
suas fases desde a seleção para a sua aquisição até o momento do descarte.
Existem uma infinidade de normas, regras, paradigmas, bom senso etc., para esse
fim e todas devem ser avaliadas.
1- Ao
escolher o enxoval hospitalar deve-se considerar os fatores de conforto,
técnico, vida útil contábil e segurança sanitária. A aquisição pelo menor preço
pode comprometer novos recursos financeiros por futuras reposições não
programadas. A compra deve ser realizada pelo custo e retorno do investimento
(médio e longa prazo) e não apenas pelos “menores gastos” no curto prazo. Essa
invisibilidade afeta a qualidade e a rentabilidade da organização.
2- Os dois
principais fatores de atenção ao momento da compra são: A qualidade (técnica) e
a quantidade (volume) do enxoval. Qualidade sem quantidade ou quantidade sem
qualidade impactam, negativamente, no conforto, vida útil, segurança sanitária
e retorno sobre o investimento.
As normas
ABNT NBR devem ser verificadas como padrão de qualidade. A quantidade (pode
variar com a localização geográfica) parte de base de cálculo do gestor (dados
passados) ou conforme recomendação disponibilizada pela Anvisa (http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2007/041207_1.htm).
A partir do
estoque inicial (implantação) o mesmo deverá ser controlado como um conjunto de
peças do ciclo operacional (novas; em uso [mudas de roupa]; conserto e peças
para transformação e reparos [confecção a partir de outras peças já
existentes]). O número de mudas (giro da roupa) representa a quantidade de
peças circulante (ativo) da lavanderia (leito; lavanderia; rouparia [prontas
para uso]).
Com a
terceirização o tempo de retenção para processo (lead time) deve ser incluído.
3- Os
tecidos selecionados devem atender aos padrões exigidos pela ABNT (13734:1996
[roupa hospitalar: características]). O enxoval hospital é de grande
importância, a sua falta pode provocar, inclusive, interrupção do atendimento
das unidades dos serviços de saúde (Lisboa, Torres [2008]).
A ABNT apresenta normas
de qualificação e métodos de ensaios ABNT NBR 14027:1997 (Roupa hospitalar:
Confecção de campo simples); ABNT NBR 14028:1997 (Roupa hospitalar: Confecção
de campo duplo), ABNT NBR 14873:2002 (Não-tecido para artigos de uso
odonto-médico-hospitalar: Determinação da eficiência da filtração
bacteriológica); ABNT NBR 14920:2008 – Não-tecido para artigo de uso
odonto-médico-hospitalar: Determinação da resistência à penetração bacteriológica
a seco); ABNT NBR 15622:2008 (Não-tecido para artigo de uso
odonto-médico-hospitalar: Determinação da resistência à penetração
bacteriológica a úmido) entre outros.
A ABNT classifica em T1 (avental, bota,
camisola), T2 (felpudos), T3 e T4 (campos cirúrgicos e sacos hamper), T5
(cobertor) T6 (lençóis, fronhas, pijamas) e T7 (colchas). As peças podem ser 100%
de algodão (T1; T2; T3; T4 e T7), o T5 e T6
podem ser mistos (algodão [50%]/ Poliéster [50%]).
Usa-se em especial os tecidos de 100% algodão,
pois a presença de poliéster limita o uso de certos equipamentos hospitalares,
tais como bisturi elétrico (o poliéster não descarrega a eletricidade
estática.) e também absorve a gordura (suor, pomadas e cremes) que promovem
manchas que são difíceis de remoção.
4- Os tecidos
apropriados mas, em condições adversas perdem características de qualidade e
podem onerar os custo hospitalares e tornarem-se tão frágeis quanto os
tecnicamente inadequados. O triangulo da vida útil dos tecidos é composto pela
Composição, Tratamento (lavagem) e Manuseio.
A
composição têxtil deve atender a conformidade ABNT quando da aquisição, durante
o ciclo operacional (uso, coleta, lavagem, estocagem [lavanderia e transporte]
e manuseio [uso hospitalar, transporte, estocagem [lavanderia] e transporte) e
manuseio (uso hospitalar, transporte, estocagem [rouparia]) com o objetivo de
reduzir perdas e danos precocemente.
Os
danos podem ocorrer nas etapas de lavagem (carga da máquina, taxa de água,
tempo de lavagem, características e agressividade do produto, temperatura e
qualidade da água); centrifugação (torção e repuxo); secagem (tempo e
temperatura); calandragem (repuxo e temperatura); transporte (risco por danos
físicos); estocagem por danos (biológicos, umidade, fungos, bolor, ferrugem,
perfuro-cortantes) e transportes (danos, avarias etc.).
São
variáveis causas e a melhor alternativa é o controle das etapas do processo. A
ABNT também normatiza ensaios (que recomendo) como métodos de controle da vida
útil do enxoval como determinação da gramatura, fricção e resistência à tração.
O
controle da resistência aos danos no enxoval é uma medida de gestão do enxoval.
A tabela (padrão internacional) da WKF (Wisal Kamal Farbics [http://wkf.com.pk/about-wkf/]) ou TNO
(Toegepast Natuurwetenschappelijk Onderzoek or
Dutch Organization for Applied Scientific Research [http://www.tno.nl/]).
A
tabela WKF estabelece a perda da resistência à tração após 20 lavagens (tecido
padrão holandês, utilizado para realização de testes de durabilidade),
parâmetros do IFI (Internacional Fabricare Institute), hoje DLI (Drycleaning
and Laundry Institute [http://dlionline.org/]).
A classificação
da tabela genérica DLI vai de Excelente (A [menor que 5%]), Bom (B [de 6,0 a
10%], Regular (C [11,0 a 15%]) a Excessivo (D [maior que 15%). Na tabela TNO (Holandesa) de dano
mecânico e químico a perda da resistência à tração após 25 lavagens é
classificada como Excelente (menor que 9%), Muito bom (9%), Bom (11%), Regular
(13%), Ruim (15%), Muito Ruim (17%), Péssimo (maior ou igual a 19%) após 25
lavagens.
Se os
parâmetros estiverem em acordo com as tabelas de padronização, é possível
afirmar que além de uma boa aquisição os cuidados de manuseio e tratamento
estão sendo satisfatórios.
5- A
técnica de monitoramento é a contagem individual das peças por período (estoque
inicial + (aquisição – descarte) = estoque final). A tecnologia da contagem
pode ser convencional, mecânica ou com o auxílio da informática.
A
tecnologia vai promover a velocidade na coleta dos dados, não garante a
qualidade da informação. A disciplina é um comportamento que contribui para a
qualidade da informação. Instalar artefatos de controle sem a disciplina do
controle é uma inadequação de qualidade e não deve ser praticada.
Dois
modelos podem ser aplicados na esfera tecnológica: o barcode (código de barras
e o RFID (rádio frequência). O barcode é mais barato por unidade, porém tem
como restrições em função do manuseio das peças sujas. A NR 32 recomenda a
mínima manipulação das peças sujas (contaminação da roupa ao homem) e das peças
limpas (contaminação do homem a roupa).
O RFID
(chip) é o recurso mais adequado, de maior qualidade de registro, porém ainda é
considerado de alto custo. Essa avaliação (custo) depende do foco dado a gestão
do enxoval.
6- O
uso correto do enxoval é proporcional a sua aparência (sentimento do cliente),
suas características técnicas (resistência a tração [ABNT NBR 11912], danos
químicos [físicos e biológicos). A lavanderia hospitalar deve controlar esses
indicadores. Peças de roupa, principalmente lençóis com baixa resistência podem
provocar acidentes (na transferência) se estiverem com sua resistência abaixo das
especificadas.
O
controle de resistência a tração, de danos físicos, químicos são referencias
(ABNT) que devem ser verificadas continuamente como indicador de qualidade do
enxoval. O tempo de vida útil deve atender ao Retorno sobre o investimento.
As peças do enxoval que foram adquiridas
com tempo de durabilidade para 50 / 100 / 200 utilizações devem ser assim
controladas (e alocadas nos custos das intervenções ou hotelaria). Primeiro
pela característica segurança do paciente, segundo pelo aspecto financeiro.
Os
fabricantes de tecidos afirmam um limite mínimo de vida útil, porém o uso e o
tratamento são elementos de redução da mesma. Não é um fator limitador, são
vários e todos devem ser monitorados.
7- As recomendações ainda são as gerais de
descarte de resíduos sólidos. Não existe nada mais específico em normas
brasileiras para hospitalar. O destino das peças após uso é variado, alguns
utilizam as peças como panos de limpeza, outros que incineram ou descartam
junto com os demais lixos hospitalares. Não há nada específico, mas temos a Lei
de deposição de resíduos sólidos obriga aos hospitais maior critério para esse
descarte.
Na avaliação dos técnicos e membros da Anvisa, é
preciso distinguir o aproveitamento de sobras de tecidos que não foram utilizados pelos
serviços de saúde, das peças usadas. Para produtos já empregados nas
atividades dos hospitais e descartados após o fim da vida útil, é obrigatória
desinfecção e lavagem antes do reaproveitamento do material para outras
finalidades. Caso contrário, a unidade de saúde deverá enquadrar o tecido como
resíduo e dar a destinação específica, de acordo com o grupo de risco
biológico, químico, radioativo ou perfurocortante, definido na legislação
sanitária.
8- Terceirizar é
descentralizar e flexibilizar as decisões da empresa, com co-responsabilidades,
por meio de parceiros que priorizem o equilíbrio e a integração dos objetivos e
das metas, evitando a exploração da atividade sem
foco no negócio.
A terceirização exige cuidados portanto, deve-se observar pontos
importantes como: avaliação do objetivo que se deseja alcançar; discutir
abertamente o processo com toda a equipe; não procurar simples empresas, mas
gerenciadoras e parceiras; verificar a qualidade, a competência, a
especialidade e auferir a capacidade do terceiro; estabelecer contratos
flexíveis e renováveis; pensar no futuro – observar o padrão – firmar contratos
com compromisso e com os resultados; não ter pressa de terceirizar; evitar
comprometimento da qualidade; analisar a base financeira da empresa; sua
solidez ao tempo, sua responsabilidade social e, fundamentalmente, evitar ações
mágicas.
Na lavanderia, a terceirização passa por dois pontos críticos sendo que
um deles, independente da terceirização ou não, é o número de mudas do enxoval.
Esse requisito é primordial para a redução dos custos operacionais e
patrimoniais. Mudas reduzidas desgastam-se mais rapidamente pelo excessivo
número de lavagem a que são submetidas e ainda podem alterar o cotidiano
hospitalar negativamente, inclusive provocando riscos à saúde dos pacientes
pelo cancelamento de intervenções cirúrgicas.
A escolha dos terceirizadores é a base para o sucesso da parceria. Dentre as
vantagens, a especialização da atividade; questões trabalhistas reduzidas;
parceria adulta e profissional; exigência do mercado na especialização;
desempenho; rentabilidade; qualidade e infra-estrutura de apoio.
Como desvantagens, a falta de padronização de qualidade ou operacional;
adaptação à cultura da empresa (para ambos); custo elevado e capacidade técnica
duvidosa ou não comprovada.
A terceirização não torna a empresa terceirizada livre de problemas, é
necessário que o compromisso com a visão e a missão sejam prioridades da
terceirizada. É importante que o contrato seja firmado de forma inteligente e
que o relacionamento entre as empresas seja, ao mesmo tempo, ”íntimo” e
profissional.
Diante desse aspecto é importante ressaltar, para os terceiros e
terceirizados a capacidade operacional (equipamentos e transporte), o produto
utilizado, a capacidade técnica funcional, o controle operacional, a
responsabilidade comercial e financeira, os registros e licenças, a higiene e a
logística definida. A terceirização pode incluir, além da lavagem de roupas, a
terceirização (parcial ou plena) dos funcionários, o próprio enxoval, como
aluguel ou aluguel com lavagem.
A
terceirização não é um processo gerador de conflitos cujo resultado é
“perder-e-perder”. O foco estratégico é a especialização das atividades
periféricas. Não se pode terceirizar pelo menor preço, alguém vai pagar essa
conta. As empresas que não cobram por seus serviços pode transferir problemas
futuros para o terceirizado, ou seja, você vai assumir problemas futuros.
1.
Qual
a importância da correta escolha dos enxovais para hospitais?
2.
Que
fatores os hospitais devem se atentar no momento da compra?
3.
Quais
os tecidos mais apropriados?
4.
Que
cuidados os hospitais devem ter com as peças?
5.
O
uso de tecnologia para monitoramento das peças é uma boa solução contra os
furtos e avarias?
6.
Qual
o tempo correto de uso dos enxovais?
7.
Qual
deve ser o correto destino das peças?
8.
Que
cuidados se deve ter na escolha da lavanderia no caso de terceirização do
setor?
9.
E
nos casos de lavanderia própria, quais as exigências?
A
qualidade estrutural e sanitária das instalações, a equipe de trabalho e o
enxoval são os pontos fundamentais para realização do processo de lavagem da
roupas hospitalar. A RDC 50 e o Manual de Lavanderias – Anvisa, aborda essas
questões assim como a NR 32 no tocante a gestão e aos riscos ocupacionais.
No planejamento
devem ser observados padrões e normas de
segurança e saúde ocupacional, de
proteção contra incêndio, de
controle de infecção, recursos humanos, infra-estrutura física, equipamentos, produtos e insumos, dentre
outros (BRASIL, 2005 – NR 32; BRASIL, 2002).
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