Prof. Roberto Maia Farias
A limpeza até bem pouco tempo
era um processo de elevado esforço humano (ação mecânica), ou seja, muita gente
esfregando demasiadamente o ambiente ou utensílios, independente das misturas
de produtos (ação química), das condições de uso (ação tempo e temperatura),
dos tipos de sujidades e da segurança (pessoal, operacional e ambiental).
O ambiente a ser limpo (piso,
parede, roupas etc.) e o tipo de composição material (cerâmica, mármore,
azulejos, madeiras tecidos etc.) tinha baixa importância no processo de
limpeza. O fundamental era somente “arrancar” (eliminar) a sujeira. O sistema
era conduzido (gerenciado/operado) por pessoas, na maioria das vezes,
desconhecedoras ou com baixo índice de instrução ao processo de limpeza, dos
riscos dos produtos, das sujidades e das conseqüências sanitárias aos seres
humanos pelos resultados dessa operação.
O princípio geral da
qualificação da ação dos produtos era o poder de espumar, quanto mais espumava
melhor a performance do produto. A operação de higiene e limpeza, embora
evoluída, cientificamente, ao longo dos anos, não ultrapassou todos os limites
regionais e sociais ou o faz de forma lenta e regional, pois ainda encontramos
em algumas cidades ou classes sociais, um baixo conceito e prática sobre os
procedimentos e benefícios da higiene.
Lavar, Higienizar e Limpar não
é somente uma operação simples e convencional, é um processo complexo e requer
bastante tecnologia, pois tem como fundamento final a eliminação de risco
físicos, químicos e biológicos que provocam danos a saúde do homem, as
superfícies e ao meio ambiente, de forma direta ou indireta.
O desenvolvimento e as
pesquisas sobre higiene, principalmente com relação à prevenção e combate às
doenças e distúrbios gastrointestinais, provocou uma radical mudança na visão
de que limpeza não é simplesmente lavar. O processo de higienização e limpeza
foi aos poucos se profissionalizando com a abordagem de novos conceitos
técnicos e metodológicos contrariando o princípio de que “cheirinho de limpeza”
significa limpeza.
Os fabricantes de sabões e
detergentes desenvolveram e incrementaram novos produtos e aditivos aos
produtos já existentes com a finalidade de obterem melhores resultados no
processo de limpeza. Esses fabricantes podem ser considerados grandes
responsáveis pela impulsão e benefício dos conceitos de higiene e limpeza no
Brasil, principalmente no Nordeste.
Atualmente (2007), apesar de
toda tecnologia alcançada (máquinas, produtos, processos etc.), ainda é
possível encontrar processos de higienização extremamente rudimentares, de alto
risco operacional e baixo efeito de limpeza, características elementares da
falta de conhecimento (ou consciência?) sobre higiene e limpeza.
FLUXO LÓGICO
FLUXO LÓGICO
A higiene deve atender a um
fluxo lógico que contemple o ambiente, métodos, processos e produtos.
O
ambiente é a somatória dos tipos de superfícies e sujidades;
A
metodologia é o programa estruturado de higiene a ser empregado;
Os
processos são as técnicas e procedimentos operacionais padrões;
Os
produtos [seleção dos ativos] são resultantes da identificação de substratos,
sujidades e resultados requeridos pela higiene.
A lógica inicia no diagnóstico
do sistema a ser limpo. O sistema é composto por três subsistemas; o primeiro
subsistema (entrada) é composto pelo ambiente que é a combinação da superfície
(classificação pelo tipo, forma e composição físico-química do substrato) e da
sujidade (classificação das sujidades pelo tipo e composição físico-química).
O
segundo (processamento) é composto pelos métodos, (segurança nas formas de
aplicação da limpeza se manual, mecânica etc.), processos (POP) e produtos
(características físico-químicas etc.) e o terceiro (saída) pelos objetivos
(ambiente limpo, seguro, saudável, segurança operacional, e responsabilidade
ambiental) e metas (custo-matriz e custo operacional monitorado) da higiene e
limpeza conforme mostra a figura a seguir.
Figura 1 – Lógica da Higiene e Limpeza |
A lógica, para que os
resultados possam ser almejados, parte do pressuposto de que os aplicadores
conhecem e detém o domínio das fases do programa de limpeza desde o
planejamento até a finalização do processo de higienização. A diversidade de
sujidades, ambientes e produtos pode dificultar o poder de conhecimento pleno,
porém a falta do mínimo conhecimento sobre o programa é inadmissível.
COMPONENTES DA LÓGICA
COMPONENTES DA LÓGICA
A lógica é composta pelo
conhecimento dos principais componentes envolvidos no processamento da limpeza
como:
Ambiente:
Substrato e sujidades;
Metodologia:
Produtos e processos;
Segurança:
Pessoal, ambiental, substrato e meio-ambiente;
Objetivos:
reduzir riscos (limpar, higienizar, sanitizar, esterilizar etc.);
Meta:
Custo-matriz, produtividade e rentabilidade;
Algumas questões devem ser
abordadas como:
O
substrato é sensível ao produto?;
O
produto é eficaz para essa sujidade?
O
processo é realizado com segurança?
O
resultado é eficiente?
Segundo Vieira e Cabral [1]
o que compromete o resultado final num processo de higienização é, sobretudo a
falta de conhecimento dos usuários e de alguns fornecedores. Não se pode
definir um programa de higiene desconhecendo alguns fatores que influem na
higienização. Numa matriz mais abrangente ressaltam-se diversos parâmetros para
que o processo de higienização seja aplicado adequadamente conforme descrito
nos fatores mencionados pelo círculo skill. Limpeza é coisa séria e pode
provocar diversas insatisfações e inconvenientes à população pela baixa ou
falta de eficiência da mesma.
Os principais parâmetros são:
Água:
(qualidade e quantidade);
Métodos
e Processo de Higiene e limpeza;
Métodos
de controle: financeiro (custo) e microbiológico (eficiência);
Tipos de Sujidades;
Procedimentos
Operacionais Padronizados;
Produtos
para higiene e limpeza: saneantes;
Segurança
operacional;
Principais
Substratos;
Monitoração:
(auditoria e freqüência para eficiência, eficácia e custos);
Capacitação
profissional.
Para que o programa de higiene
e limpeza seja realizado é necessário conhece-lo para definir e planejar os
métodos, processos e produtos, os tipos de sujidades, os substratos, a água ser
utilizada, tanto para processo (diluição dos produtos, como para o enxágüe).
Ainda assim, o sistema não estará completo. É necessária uma clara definição
sobre a segurança dos operadores e usuários. Os operadores quanto aos riscos
eminentes dos produtos de higiene e limpeza, os usuários quanto à garantia da
segurança sanitária.
PARADOXO E PARADIGMAS DA HIGIENE E LIMPEZA
PARADOXO E PARADIGMAS DA HIGIENE E LIMPEZA
Partindo do princípio de que
higiene é saúde e, também segurança, desde já se pode determinar que os
administradores, supervisores, operadores que aplicam esse processo devem estar
qualificados para planejarem, coordenarem e operacionalizarem as ações de
higiene e limpeza em qualquer que seja o ambiente com prazos e freqüências
predeterminada adequadamente.
É paradoxal quando o objetivo
final (saúde) tem o foco científico, e o foco operacional (limpar) atua de
forma empírica.
O processo está na direção
oposta conforme mostra a figura a seguir.
Figura 2 Visão paradoxal na higiene e limpeza
O processo de higienização e
limpeza também sofre barreiras paradgimáticas. O conceito de higiene lembra
diretamente a sujeira e é preciso romper essa barreira imediatamente. Os
fabricantes usam tecnologia extremamente elevada na definição dos métodos,
processo e produtos destinados a higienização, são rigorosamente fiscalizados
pelos órgãos reguladores da saúde (ANVISA), porém na maioria das vezes são aplicados
independentemente da sua necessidade.
De um lado a alta tecnologia e
exigência sanitária (fabricantes), de outro, a falta de conhecimento na
seleção, na aplicação e na busca do objetivo-fim da higiene e limpeza. Deve-se
inverter a visão sobre o processo de higienização, ou seja, deixar de ver a
higiene e limpeza como uma operação de remover sujeira e partir imediatamente
para a dimensão sobre os benefícios da limpeza como conforto e segurança
sanitária.
[1] Médico
Veterinário, higienista de alimentos, professor do curso de Agronegócios da
FTC_SSA: e-mail: guilherme.ssa@ftc.br.
Médico Veterinário, Gerente de desenvolvimento de mercado, Unilever Brasil
Diversey Lever. Trabalho sobre higiene e limpeza de frigoríficos divulgado no
Grupo LUA [Laundry Universal Association] em 21/ago/2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário