segunda-feira, junho 18, 2012

Higienização e desinfecção de artigos têxteis


LAVANDERIA HOSPITALAR: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE HIGIENIZAÇÃO E DESINFECÇÃO DE ARTIGOS TÊXTEIS
Daniele Gomes do Nascimento¹,  Etienne Amorim Albino da Silva² e Sabrina Pereira dos Santos³
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1. Aluna da graduação em Economia Doméstica, Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail: dgned@yahoo.com.br.
2. Professora do Departamento de Ciências Domésticas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail: etienneaas@yahoo.com.br.
3. Economista Doméstica. E-mail: estilos_sabrina@yahoo.com.br.
Apoio Financeiro: DCD/UFRPE.

Introdução
A prática de lavar roupas é uma técnica de higienização bastante antiga entre as civilizações. Este processo era inteiramente manual, dispendioso e cansativo levando horas para seu término. Porém, fez e ainda faz parte da vida cotidiana das pessoas tendo pouca evolução ao longo do tempo, a não serem no desenvolvimento  dos  serviços  terceirizados, equipamentos mais eficientes e sofisticados além de produtos tecnologicamente testados. 

Higienizar as roupas é uma atividade cuja finalidade consiste em devolver o aspecto original da roupa, sendo necessário eliminar as sujeiras fixadas com técnicas e equipamentos adequados. Portanto, lavam-se as roupas para atender um princípio da prática da higiene, dando uma melhor aparência, conforto e maciez, de forma que as fibras e as cores sejam preservadas proporcionando uma maior durabilidade das mesmas [1].

Para compreender melhor todo o processamento da higienização e desinfecção das roupas é necessário aprofundar a cerca de alguns assuntos tais como a natureza das sujidades e fibras têxteis. As sujidades são definidas por  [2] como elementos estranhos depositados nos tecidos, recobrindo o fio e impregnando as fibras. Classificam-se em dois grupos: a sujeira sólida e a sujeira líquida. A sujeira sólida é a poeira, argila, sais, carvão, etc. e as sujeiras líquidas resultam da presença de material oleoso, ácidos, secreções da pele, entre outros. Conseqüentemente, a fibra têxtil é a matéria prima utilizada na fabricação de fios e gêneros têxteis, podendo ser natural (de origem: animal,  vegetal e  mineral)  ou  manufaturada (regenerada, modificada, sintética e inorgânica).

Dessa forma, a lavagem de roupas realiza-se nas lavanderias e que de acordo com [1] é o estabelecimento que se destinam a higienizar e desinfetar as roupas. Estes estabelecimentos se classificam em: domiciliar, industrial, self-service e comunitária. A lavanderia industrial divide-se em hoteleira, terceirizada, beneficiamento e a hospitalar.




Atualmente, com o mundo contemporâneo, através do advento da globalização e a imposição do mercado (industrialização), mudanças constantemente são ocasionadas no cenário econômico nacional no que se refere ao setor terciário que é o chamado setor dos serviços ou sociedade dos serviços. Um dos setores de serviços que merece destaque são os serviços de saúde. De acordo com [3] hospital é o estabelecimento cuja função básica consiste na prestação de serviços à saúde, ou seja, prestar assistência a pessoas doentes cujo produto principal deve ser a excelência do seu atendimento, portanto, tendo qualidade, eficiência e eficácia. É também considerada uma empresa constituída por diversos setores, dentre eles a lavanderia hospitalar ou setor de processamento de roupas em uma unidade hospitalar. 

A lavanderia hospitalar, segundo [4] presta serviços de apoio ao atendimento do paciente e compete transformar todas as roupas sujas e contaminadas em roupas limpas, ou seja, coletam, pesam, separam, processam, confeccionam, reparam e distribuem roupas em perfeitas condições de higiene, conservação e limpeza para todas as unidades do hospital, a fim de controlar infecções hospitalares e proporcionar conforto e segurança satisfatoriamente tanto aos funcionários quanto aos pacientes. Já [5] diz que o serviço de lavanderia, rouparia e costura de um hospital é de suma importância para o bom funcionamento do hospital, visto que a eficiência de seu funcionamento contribuirá para a eficiência do hospital. 

As roupas hospitalares diferem daquelas utilizadas em outros tipos de instituições ou residências visto que alguns itens apresentam-se contaminados com sangue, secreções ou excreções de pacientes em maior quantidade de contaminação e volume de roupa, mas não diferentemente das sujidades encontradas nas roupas da comunidade em geral. Compoem-se por lençóis, fronhas, cobertores, toalhas, colchas, cortinas, roupas de pacientes e roupas de funcionários, fraldas, compressas, campos cirúrgicos, máscaras, propés, aventais, gorros, panos de limpeza, entre outros [6] As roupas hospitalares que compõem um enxoval, variam conforme a classificação e os serviços prestados pelo hospital. Conforme [4], as principais peças utilizadas são: avental, pijama, campo cirúrgico, cobertor, compressas, jaleco, lençol.  Em função disso [7], indica que cada leito se utilize cinco a seis enxovais, possibilitando que as fibras das roupas possam se recuperar da ação agressiva dos produtos, além de trabalhar com a margem de erros, devido aos procedimentos de emergência. A mesma salienta que o tempo ideal de duração de um enxoval no hospital é de oito meses.

As atividades realizadas pela lavanderia são citadas por [8] seguindo a seguinte descrição: retirada da roupa 
suja da unidade da unidade geradora e o seu acondicionamento; coleta e transporte da roupa suja até à unidade de processamento; recebimento, pesagem, separação e classificação da roupa suja; processo de lavagem da roupa suja; centrifugação; secagem, calandragem ou prensagem ou passadoria da roupa limpa; separação, dobra, embalagem da roupa limpa e armazenamento, transporte e distribuição da roupa limpa.

O processo de lavagem desses artigos hospitalares depende do grau de sujidade que as roupas se encontram e também a alguns princípios que são de ordem física (mecânica, temperatura e tempo) e química  (detergência,  alvejamento,  desinfecção, acidulação e amaciamento).

É importante ressaltar que apesar de sabermos da grande importância da lavanderia no âmbito hospitalar, na realidade esse setor não tem reconhecimento merecido, sendo bastante menosprezada pelos administradores, além de serem carentes em profissionais com formação específica na área, os baixos salários oferecidos, péssimas condições de trabalho, entre outros.

Diante do exposto, o curso de Economia Doméstica forma profissionais multidisciplinares, com visão crítica-reflexiva e humanista podendo atuar, dentre as várias  áreas  (Alimentos,  Nutrição  e  Saúde; Desenvolvimento Humano e Artes, Habitação e Vestuário), esta última, nos dar embasamento teórico para o ato de gerir, administrar e supervisionar uma lavanderia seja ela: hospitalar, hoteleira, industrial e/ou comercial. 

Desse modo, poder atuar em uma lavanderia hospitalar tem grande relevância, devido possibilitar o/a aluno/a e futuro/a profissional, a colocar em prática informações teóricas e técnicas vistas em sala de aula a partir de disciplinas como têxteis e conservação têxtil, que compõem a grade curricular do curso de Economia Doméstica, onde permitirá interpretar as necessidades reais do local, bem como contribuir para os/as trabalhadores/as no sentido de orientá-los/las sobre questões relacionadas a sujidades, fibras têxteis, tecidos, produtos químicos, condições de trabalho, uso de EPI’s, enfim, aos procedimentos adequados que 
correspondem uma lavanderia. Contribuindo desta forma, com o aproveitamento dos recursos disponíveis na lavanderia e melhorando a qualidade dos serviços e das roupas hospitalares processadas, satisfazendo o consumidor final que é o paciente.

Desta forma, este trabalho tem objetivo identificar todas as etapas do processo de higienização e desinfecção dos artigos têxteis e também o tempo de vida útil dos enxovais do Hospital Agamenon Magalhães – H.A.M.

Material e métodos
A metodologia empregada para a construção desta pesquisa baseou-se nos resultados obtidos na vivência do estágio supervisionado obrigatório (ESO), realizado na lavanderia do Hospital Agamenon Magalhães na Região Metropolitana do Recife - H.A.M, bairro da Tamarineira, no período de Março a Junho de 2009.

A pesquisa foi desenvolvida seguindo as seguintes etapas:
Levantamento bibliográfico a cerca do referido tema com a ajuda de recursos literários (livros), revistas, teses e dissertações e sites da internet. Pesquisa de campo com observação direta (in loco) a partir de um roteiro previamente elaborado, conversas informais, registros do ambiente por meio de fotografias e anotações em um diário de campo. 

Análise dos resultados. Resultados e Discussão
As etapas do processamento de roupas observadas no H.A.M. seguem da seguinte forma: um funcionário é designado a função de coletar as roupas em todas as dependências do hospital, em horários pré-estabelecidos, usando EPI’s específicos e em carros apropriados; estas roupas coletadas são levadas para a recepção e separação das roupas, que são verificadas por grau de sujidade e pelo tipo do tecido a fim de identificar o tipo de lavagem, bem como também identificar possíveis materiais cirúrgicos deixados nas roupas; após separação as roupas são carregadas para as máquinas lavadoras a uma fração de 80% da capacidade da máquina, estando de acordo com as recomendações de [4] quando estas afirmam que a capacidade máxima que toda lavadora deve proceder é de 80%, pois, excedendo este padrão acarretará problemas de saúde dos/as funcionários/as que irão descarregar estes equipamentos.

O processo de lavagem de roupas com sujidade leve é realizado em peças com pouca sujidade (poeira, suor) como lençóis trocados das camas, fronhas, colchas, toalhas; enquanto o processo de lavagem de roupas com sujidade pesada é direcionada para as roupas contendo muito sangue como as do bloco cirúrgico, as provenientes de pacientes com doenças transmissíveis, que apresentam alguma importância na cadeia epidemiológica; fezes; urina; fluidos corpóreos; alimentos; e também as roupas de retorno visto que as mesmas são reprocessadas devido à permanência de manchas. As compressas são lavadas separadamente conforme o grau de sujidade. 

Uma questão importante que foi observada no H.A.M foi o desconhecimento do peso real de roupas processadas em cada ciclo de lavagem. Esse fato decorre da inexistência de balança na área suja, sendo a capacidade estimada pelo operador para cada lavagem, ou seja, executam esta atividade de forma empírica.
Após as roupas lavadas, as mesmas serão centrifugadas para serem retirada o excesso de água por um período de 10 a 15 minutos em roupas de fibras de algodão por reterem mais água e de 5 a 6 minutos os cobertores (poliéster retém pouca água). Constatou-se por parte dos funcionários que a finalidade da centrifuga é retirar toda a água presente nas roupas, mas na verdade, [2] afirma que a centrifuga é destinada a extrair cerca de 40% de água da roupa. Depois são levadas as secadoras para haver a secagem completa das roupas. Cada secadora atua, em média, 20 minutos para completar um ciclo das roupas de tecidos leves e uns 30 minutos em roupas de tecidos encorpados (grossos). Em seguida essas roupas serão dirigidas até a mesa para serem dobradas. No caso das roupas cirúrgicas, as mesmas seguem para outra área da lavanderia chamada dobra de enfermagem a fim de serem dobrados e formados os kits e seguirem para serem esterilizadas, que no caso do H.A.M. é em outro pavimento do hospital. 

Nenhuma roupa do H.A.M. sofre o processo de passagem. Foi observado que quanto aos equipamentos denominados calandra, prensa e ferro elétrico, estes não fazem parte da relação de equipamentos existentes no hospital, foi relatado que isto ocorre devido o hospital querer reduzir os custos operacionais e por demandar mais funcionários que não dispõe e de acordo com a Enfermeira Chefe, “Estes equipamentos são itens desnecessários a lavanderia, já que as roupas saídas das secadoras estão pouco amassadas e é só dobrar direito que parece que está passada”.   

Quando as roupas estão sendo dobradas, existe a verificação de roupas ainda contendo sujeiras onde seguirão para o retorno e se conter algum tipo de rasgões segue para a área de costura e conserto. Nesta área também é realizada a confecção de novas peças. Os consertos ocorrem devido aos cirurgiões não tendo paciência no manuseio das roupas as rasgam após as cirurgias, observando o relato de uma das costureiras da área:
“Os médicos não têm paciência em desatar os laços da roupa após serem colocadas, pegando então o bisturi e cortando os laços” (Eliete). 

Para resolução deste problema há um setor de desenvolvimento de enxovais que elaboram desde o design, passando pela modelagem, confecção e estamparia do produto. Fazendo o diferencial desta lavanderia em relação às outras.

Seguindo o processamento de lavagem, desinfecção e reparo das roupas [7] salienta que o tempo ideal de duração de um enxoval no hospital é de oito meses. Visualizamos, portanto, no H.A.M. que os enxovais tem a duração média de 12 meses. Além de ter uma duração maior, muitas peças que ainda encontra-se em bom estado de conservação são reutilizadas para confecção de outros artigos têxteis do enxoval. O que não é reaproveitado para confecção são as roupas dos centros cirúrgicos, podendo ser reaproveitados apenas para produtos de limpeza geral.  

Conclui-se que todas as etapas do processo de higienização e desinfecção dos artigos têxteis utilizados pelo H.A.M. estão sendo desenvolvidas de acordo com o manual técnico de [8], porém há vários pontos que precisam ser ajustados. Mesmo assim, é notório que os enxovais adquirem uma durabilidade maior que o tempo esperado dentro de uma unidade hospitalar. 

Apesar de vários pontos levantados neste trabalho, a lavanderia do H.A.M. é considerada um referencial e servindo como “modelo” para as outras lavanderias hospitalares da rede pública do Estado de Pernambuco.  Portanto, vale ressaltar que para um/a futuro/a profissional de Economia Doméstica é de grande valia poder ter oportunidade de adquirir a experiência profissional em um ambiente hospitalar e colocar em prática todos os ensinamentos vistos em sala de aula, principalmente acompanhar toda a rotina da lavanderia, seus métodos e técnicas de lavagem e de conservação dos artigos têxteis, tendo a plena consciência em proporcionar uma roupa limpa, higienizada, desinfetada e agradável, assim, melhorando a qualidade de vida daqueles que precisam usar os produtos têxteis no seu atendimento dentro do hospital.

Agradecimentos
A minha professora orientadora Etienne Amorim Albino da Silva, pelas orientações, compreensões, incentivo, dedicação, além da presteza no auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e normatização desta Monografia de Conclusão de Curso. A minha orientadora técnica no local do estágio Enfermeira Irany, pois me proporcionou a oportunidade da realização deste estágio e conseqüentemente este trabalho de pesquisa, sem esquecer também do seu apoio, valiosos ensinamentos e pela atenção dedicada. A minha professora co-orientadora Sabrina Pereira dos Santos que a partir de seus conhecimentos me fez despertar para essa área de Artes, Habitação e Vestuário, sem contar nos ensinamentos sobre a importância do trabalho em grupo e pela oportunidade de participação em publicações, eventos e exercícios simulados.

Referências  
[1] LEVER INDUSTRIAL. 198- .  Qualidade e tecnologia na lavagem de roupas. São Paulo: [Lever do Brasil]. Edição Especial. 
[2] MEZZOMO, A. A. 1980. Lavanderia Hospitalar – Organização e Técnica. 4ª ed. São Paulo: CEDAS.
[3] GODOY, S. C. SANTOS,  E. M. R. HORTA,  N.C. GONTIJO,  S.M. VILELA,  A. F. 2004.  Riscos para o trabalhador em lavanderias hospitalares. Revista Mineira de Enfemagem (REME). v.8, nº 3, p. 382-387, jul/set.
[4] CASTRO, R. M. S. A. e. CHEQUER, S. S. I.. 2001.  Serviço de processamento da roupa hospitalar: gestão e funcionamento. Viçosa: UFV. 100p.
[5] BARTOLOMEU, T. A.. 1998.  Identificação e avaliação dos principais fatores que determinam a qualidade de uma lavanderia hospitalar: um estudo de caso no setor de processamento de roupas do Hospital Universitário da UFSC. Dissertação de Mestrado em Engenharia da Produção. Florianópolis.131p.
[6] KONKEWICZ, L.R. 2004. [Online]  Prevenção e controle de infecções relacionado ao processamento das roupas hospitalares. Homepage: http://www.cih.com.br/lavanderiahospitalar.htm. 
[7] CARVALHO, A. M. 2008. [Online]  Lavanderia hospitalar. Homepage: http://www.hospitalgeral.com.br/1_prof/adm_hosp/hotelaria/lavanderia/dicas.htm.
[8] AGÊNCIA  NACIONAL  DE  VIGILÂNCIA  SANITÁRIA (ANVISA). 2007. Processamento de roupas de serviços de saúde: prevenção e controle de riscos. Brasília: ed. Anvisa,. 120 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).

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