sábado, janeiro 19, 2013

Enxoval Hospitalar: Gestão e Normas.


Enxoval Hospitalar

A sensibilização da Anvisa para aplicação de normas técnicas é uma das metas das Comissões de Estudo da normalização de artigos têxteis e nãotecidos para uso odonto-médico-hospitalar. A gestora do Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário (ABNT/CB-17) Maria Adelina Pereira comenta que a certificação de produtos “facilitaria o atendimento de editais e viabilizaria a redução do custo no de tempo da compra. Os usuários e profissionais da saúde contarão com produtos confiáveis que venham a garantir a qualidade e a segurança do atendimento”.



O enxoval hospitalar tem um ciclo operacional e como tal deve ser analisado em todas as suas fases, desde a seleção para a sua aquisição até o momento do descarte. Existem uma infinidade de normas, regras, paradigmas, bom senso etc., para escolher o enxoval hospitalar e todas devem ser avaliadas.

Ao escolher o enxoval hospitalar devem-se considerar os fatores de conforto, adequação técnica, vida útil contábil e segurança sanitária. A aquisição pelo menor preço pode comprometer novos recursos financeiros por futuras reposições não programadas. A compra deve ser realizada pelo custo e retorno do investimento (médio e longa prazo) e não apenas pelos “menores gastos” no curto prazo. Essa invisibilidade afeta a qualidade e a rentabilidade da organização.



Os dois principais fatores de atenção ao momento da compra são: A qualidade (técnica) e a quantidade (volume) do enxoval. Qualidade sem quantidade ou quantidade sem qualidade impacta, negativamente, no conforto, vida útil, segurança sanitária e retorno sobre o investimento. As normas ABNT NBR devem servir de guias da qualidade. A quantidade (varia com a localização geográfica) parte da base de cálculo do gestor ou, conforme recomendação Anvisa  (http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2007/041207_1.htm).

A compra gera movimento que gera o estoque. O estoque inicial (implantação) deverá ser controlado como um conjunto de peças do ciclo operacional (novas; em uso [mudas de roupa]; concerto e peças para transformação e reparos [confecção a partir de outras peças já existentes]). O número de mudas (giro da roupa) representa a quantidade de peças circulante (ativo) da lavanderia (leito; lavanderia; rouparia [prontas para uso]). 

Outros fatores como a terceirização modificam o tempo de retenção para processamento da roupa (lead time) deve ser incluído como tempo de ciclo.

Os tecidos selecionados devem atender aos padrões exigidos pela ABNT (13734:1996 [roupa hospitalar: características]). As peças podem ser  confeccionadas em 100% de algodão (T1; T2; T3; T4 e T7), o T5 e T6  podem ser mistos (algodão [50%]/ Poliéster [50%]). Usa-se em especial os tecidos de 100% algodão, pois o poliéster limita o uso de certos equipamentos hospitalares, tais como bisturi elétrico (o poliéster não descarrega a eletricidade estática.) e também absorve a gordura (suor, pomadas e cremes) que promovem manchas que são difíceis de remoção.

Os tecidos apropriados mas, em condições adversas perdem características de qualidade e podem onerar os custo hospitalares e tornarem-se tão frágeis quanto os tecnicamente inadequados. O triângulo da vida útil dos tecidos é composto pela Composição, Tratamento (lavagem) e Manuseio. Uma disfunção pode provocar danos.

Os danos podem ocorrer nas em qualquer uma das etapas de lavagem, centrifugação, secagem, calandragem, transporte, estocagem, avarias etc. A ABNT também normatiza ensaios (que recomendo) como métodos de controle da vida útil do enxoval como determinação da gramatura, fricção e resistência à tração. O controle da resistência aos danos é uma medida de gestão do enxoval. A tabela (padrão internacional) da WKF ou TNO estabelecem padrões da perda da resistência à tração após 20 (WKF) e 25 (TNO) lavagens, (parâmetros do IFI) hoje DLI. Se os parâmetros estiverem em acordo com as tabelas de padronização, é possível afirmar que além de uma boa aquisição os cuidados de manuseio e tratamento estão sendo satisfatórios.

A resistência do enxoval é proporcional a vida útil, que é proporcional ao número de mudas. O controle de mudas e de estoque favorece o desempenho do enxoval.

A técnica de monitoramento é a contagem individual das peças por período. A tecnologia da contagem pode ser convencional, mecânica ou com o auxílio da informática. A tecnologia promove a “velocidade” na coleta dos dados, mas não garante a qualidade da informação. A leitura deve ser disciplinada. Instalar artefatos de controle sem a disciplina do controle é uma inadequação de qualidade e não deve ser praticada. 

Dois modelos podem ser aplicados na esfera tecnológica: o barcode (código de barras) e o RFID (rádio frequência). O barcode é mais barato por unidade, porém tem como restrições, o manuseio das peças sujas. A NR 32 recomenda a mínima manipulação das peças sujas e das peças limpas.  O RFID (chip) é o recurso mais adequado, de maior qualidade de registro, porém ainda é considerado de alto custo. Essa avaliação (custo) depende do foco dado a gestão do enxoval e pode contribuir na taxa de retorno sobre o investimento do enxoval.
  
O tempo de vida útil deve atender ao Retorno sobre o investimento. As  peças do enxoval que foram adquiridas com tempo de durabilidade para 50 / 100 / 200 utilizações (vida útil) devem ser assim controladas (e alocadas nos custos das intervenções ou hotelaria). Primeiro pela característica segurança do paciente, segundo pelo aspecto financeiro.

Os fabricantes de tecidos podem confirmar o limite mínimo de vida útil, porém o uso e o tratamento são elementos de garantia desse desempenho.

Quanto aos descartes, as recomendações ainda são as gerais de descarte de resíduos sólidos. Não existe nada mais específico em normas brasileiras para hospitalar. O destino das peças após uso é variado, alguns utilizam as peças como panos de limpeza, outros que incineram ou descartam junto com os demais lixos hospitalares.

Na avaliação dos técnicos e membros da Anvisa, é preciso distinguir o aproveitamento de sobras de tecidos que não foram utilizados pelos serviços de saúde,  das peças usadas. Para produtos já empregados nas atividades dos hospitais e descartados após o fim da vida útil, é obrigatória desinfecção e lavagem antes do reaproveitamento do material para outras finalidades. Caso contrário, a unidade de saúde deverá enquadrar o tecido como resíduo e dar a destinação específica, de acordo com o grupo de risco biológico, químico, radioativo ou perfurocortante, definido na legislação sanitária.

O controle do enxoval pode ser realizado diretamente pelo hospital ou pelo terceirizado.

Terceirizar é descentralizar e flexibilizar as decisões da empresa, com co-responsabilidades, por meio de parceiros que priorizem o equilíbrio e a integração dos objetivos e das metas. Na lavanderia, a terceirização passa por dois pontos críticos sendo que um deles é o número de mudas do enxoval. Mudas reduzidas desgastam-se mais rapidamente pelo excessivo número de lavagem a que são submetidas e ainda podem alterar o cotidiano hospitalar negativamente, inclusive provocando riscos à saúde dos pacientes pelo cancelamento de intervenções cirúrgicas.

A escolha dos terceirizadores é a base para o sucesso da parceria.  Dentre as vantagens, a especialização da atividade; questões trabalhistas reduzidas; parceria adulta e profissional; exigência do mercado na especialização; desempenho; rentabilidade; qualidade e infra-estrutura de apoio.

Como desvantagens, a falta de padronização de qualidade ou operacional; adaptação à cultura da empresa (para ambos); custo elevado e capacidade técnica duvidosa ou não comprovada.

A terceirização não torna a empresa terceirizada livre de problemas, é necessário que o compromisso com a visão e a missão sejam prioridades da terceirizada. É importante que o contrato seja firmado de forma inteligente e que o relacionamento entre as empresas seja, ao mesmo tempo, ”íntimo” e profissional.

A terceirização pode incluir, além da lavagem de roupas, a terceirização (parcial ou plena) dos funcionários, o próprio enxoval, como aluguel ou aluguel com lavagem.

A terceirização não é um processo gerador de conflitos cujo resultado é “perder-e-perder”. Não se pode terceirizar pelo menor preço, alguém vai pagar essa conta. As empresas que não cobram por seus serviços pode transferir problemas futuros para o terceirizado, ou seja, você vai assumir problemas futuros.

Numa lavanderia auto-gestão, alguns pontos críticos medem o desempenho da lavanderia. A qualidade estrutural e sanitária das instalações, a equipe de trabalho e o enxoval são os pontos fundamentais para realização do processo de lavagem da roupas hospitalar. A RDC 50/2002 e o Manual de Lavanderias – Anvisa 2007,  abordam essas questões, assim como a NR 32, no tocante à gestão e aos riscos ocupacionais. No planejamento estrutural devem ser  observados padrões e normas de segurança e saúde ocupacional, de  proteção contra incêndio,  de controle de infecção, recursos humanos, infra-estrutura física,  equipamentos, produtos e insumos, dentre outros (BRASIL, 2005 – NR 32; BRASIL, 2002).

A unidade de processamento de roupas está sujeita ao controle sanitário pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária – SNVS, conforme definido na Lei 9.782 de 1999, tendo em vista os riscos à saúde dos  usuários, trabalhadores  e meio ambiente relacionados aos materiais, processos, insumos e tecnologias utilizadas (BRASIL,1999).

A qualidade estrutural atende aos requisitos de segurança do ambiente (instalações, máquinas etc,). A sanitária das instalações prever a higiene e limpeza como fator preponderante de qualidade iniciando pela a separação de áreas “suja” e “limpa”. A área suja ou (área de tratamento) recebe e classifica a roupa utilizada e a área limpa (área de acabamento), prepara a roupa (secagem, dobragem, calandragem) para o uso hospitalar.

A exigência ocupacional está inserida na diversas NR (CLT) inclusive e especificamente na NR 32 que aborda a prevenção dos riscos ocupacionais e ambientais relativos ao funcionamento da lavanderia e os descartes dos subprodutos (água, produtos, artigos têxteis, excrementos etc.) do processo de lavagem (biossegurança).

Para o enxoval, alguns conceitos ainda não são parte integrante do controle de qualidade da lavagem da roupa como o controle higiênico-sanitário do enxoval. As avaliações de “enxoval limpo” são constatadas pela “ausência” de sujidades e não como garantia sanitária. Os avaliadores, por vezes, não conseguem diferenciar algumas tipos de manchas ou resíduos, portanto não podem ser “avaliadores” da higiene dos enxovais.

A lavanderia deve adotar controle de desempenho higiênico-sanitário do enxoval. A avaliação sem uma medida técnica de qualidade sanitária pode contrariar o objetivo da qualidade da lavanderia.

Outras “exigências” são ferramentas de controle de estoque, produção, custo, administrativo e Recursos Humanos.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário